quinta-feira, setembro 18

PEDE-SE EMOÇÃO


Percorro sites, blogues. Há um que me faz parar. Ler. Pede-se emoção, diz, em jeito de "desespero".

Já vesti de amarelo, fui orgulhosamente um verde. Senti o azul de amor, vivi o vermelho de forma única.

Já me apaixonei, já escrevi recados gigantes que se vissem do prédio da frente, já recebi papelinhos vindos de uma mola do 3º andar.

Já percorri serras, construí, reconstruí porque a construção estava mal feita. Já fui a Norte, a Sul. Já chorei.

Já cantei de joelhos e flor na mão. Já fiz um inter-rail de 30 dias, já percorri 3.000 kms de autocarro, já fui às ilhas com a casa às costas. Já acenei de saudade, já protegi de coração.

Já endireitei canoas, já pulei vedações de 3 metros. Já tenho os meus melhores amigos. Já andei 10 kms por um café, já caminhei 50 kms a pensar que não chegava. Já andei do pôr ao nascer do sol.

Já subi ao First, já remei no Danúbio, já vi o sol nascer na Kandersteg. Já passei fome, já comi beterraba com manteiga ao pequeno-almoço, já pensei que "não me ia safar desta".

Já vi um Castelo às voltas, já me mandei das torres de outro. Já desci o Alentejo em 6 dias, já percorri Trás-os-Montes em 5.

Já fugi de pragas, já fiquei sem roupa limpa a 3 dias de um acampamento acabar, já dormi sem saber onde, já acordei sem saber muito bem como adormeci.

Já me cantaram os parabéns na Suiça, nos Açores, em França, em Bragança, no Alentejo, em Sintra, na Serra da Estrela, na Aústria, numa estação de comboios, numa paragem de autocarro...

Já pensei que o rio me engolia, mas houve uma corda que me salvou, Já imaginei Projectos, já concretizei sonhos. Já fiquei pendurado a 10 metros do chão. Já tive saudades de casa. Já emoldurei as minhas primeiras botas de montanha.

Já vesti o fato-e-gravata no dia seguinte a 10 dias de calções, t-shirt e lenço ao pescoço. Já realizei um raíde de burro, já fiz uma estátua.

Já vos vi partir, já fiquei de lágrima no olho, já vos fui receber.

Já disse que a minha vida não é isto, mas já descobri, há muito, que eu não era assim, sem vos ter. Já disse que estou cá por vocês, mas sempre soube que cá estava por mim.

Já tive crises de confiança. Já caí, já me ajudaram a levantar. Já me ouviram até o sol nascer, já me decidi a meia hora de ter que ir. Já me ri uma noite inteira, já fiz fogueiras de chegar ao céu.

Já adormeci a contar as estrelas, já fiquei sem dormir para garantir que ia.

Já sei o sabor do chouriço assado numa fogueira, já entendo o que é arroz com carume. Percebo o significado de ter que acender com a ponta do pau em brasa, já toquei para público a meia luz. Já me ensinaram, já ensinei, já me apanharam, já apanhei.

Já ouvi muitas vezes que temos sorte, mas já sei que funcionamos d'Olhar.

Já viemos de Andorra. Já falamos de Roverway 2009 Islândia, ACAGRU 2009. Já nos curamos de uma, já nos queremos "meter em cinco".

Pede-se emoção... Que emoção?

4 comentários:

Anónimo disse...

A emoção está em tudo o que escreves-te, no sentimento que se gera quando pensamos em tudo isso. Aí é que está a grande emoção.

joscout disse...

A mais sublime emoção é ter amigos para partilhar...todas estas aventuras e desventuras.

Saryta disse...

pois... apanhaste-me
estou sem palavras!

Donalda disse...

Eu bem me parecia que emoção era coisa que não falatava na Damaia. Sempre funcionámos com o coração ( e claro também com a razão). E é mesmo por isso que ainda aí vamos com emoção...mesmoos que já não estão aí em permanência.