sábado, agosto 12

ZÊZERE – Apontamentos de visitante


Ser Chefe tem muito de egoísmo.
Eu, precisava dar lá um pulo; sentir que o espírito é o mesmo ou melhor. Ver com os meus próprios olhos que, mesmo se agora o rio se desce em canoa de fibra em vez de jangada de bidons (tudo tem o seu tempo), as marcas que ficam são idênticas; os elos que fazem a corrente são na mesma fortes; a água bebe-se e as melâncias comem-se, em grupo; o arroz ainda tem folhas ou bolotas. Vi tudo isso.
Vi o passado, o presente e o futuro, tudo na margem de um rio, tudo no espaço de poucos dias (sim, porque tambem o momento se fez de mensagens e conversas ao telefone, antes dessa hora de banhos).
Há vinte anos atrás, aprendi tanto convosco como vocês comigo; não: acho que aprendi mais. Quando eram vocês a passar pelos baptismos de campo (baptismos de prova de fogo, não de riso dos outros), não eram vocês que aprendiam a ultrapassar mêdos, era eu que aprendia que com 10, 11, 12 anos se tem uma coragem inimaginável em alguém dessa idade; que quando se é Guia aos 13 ou 14 anos e se tem uma crise entre mãos – um incêndio, um pé torcido, liderar um campo sem adultos, se assumem posturas dignas do melhor dos espíritos, do mais tenaz saber estar e fazer. Que quando se é obrigado a melhorar algo ou a redobrar um esforço físico, isso é feito porque acreditam que o podem e conseguem fazer, não apenas porque o Chefe empurra pra esse lado.
Aprende-se muito quando se está a crescer. Cresce-se muito partilhando com quem cresce.
E são depois estes bocadinhos, ano após ano, que nos dão um gostinho especial: a projecto; a equipa; a espírito; a céu estrelado; a amizade; a tótens; a arroz com folhas; a melância à beira rio.
Obrigado pelo desafio. Obrigado pelo exemplo.

1 comentário:

so manel disse...

e canoas manufaturadas!!
queres descer rios? então constrói as canoas...e foi assim há uns anitos...